sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Mistérios Noturnos: História Familiar - J.R. Ward

A grande maioria dos romances normalmente nos apresenta a seguinte realidade: a mulher como o ser que carece de cuidados, que precisa ser salva de algo ou de alguém. Encontramos uma lista enorme de textos em que somos apresentadas como frágeis, complicadas, carentes, desamparadas; vivendo situações em que precisamos de um salvador, e, quando tudo parece estar perdido, eis que surge o príncipe encantado e somos salvas de todas as nossas vidas infelizes.
O herói que trago hoje, é alguém que para salvar a mocinha, deverá ser salvo antes de tudo. Assim, diferente dos homens que conhecemos no mundo do romance literário, em quase sua totalidade, Michael aparece como uma “Bela Fera” em A História de Filho (The Story of Son), já editado aqui pela Universo dos Livros, como o primeiro dos três romances do livro Mistérios Noturnos, de J.R. Ward, autora da Irmandade da Adaga Negra.
Como os Irmãos, Michael é um vampiro, diga-se de passagem, maravilhoso. E, também como cada um dos Irmãos, tem uma história de muito sofrimento em sua vida; a diferença é que toda sua vida foi determinada e devastada por sua própria mãe.
Esta é mais uma prova da qualidade dos textos de Ward, pois traz personagens fortes, um universo fantástico e, mesmo aqueles leitores que não têm uma quedinha pelos vampiros, certamente se encantarão com essa história curta, mas intensa.
O “Filho”, ou Michael, um macho que nos faz lembrar fisicamente Wrath, só que com os cabelos tipo Phury, vive trancafiado desde a infância por ordem de sua mãe humana (mais para desumana), justamente por sua natureza vampira.
Esse lindo macho, que sequer sabe ou se lembra de seu nome, está confinado há 56 anos e, segue sua vida obscura, acreditando ser merecedor de tal destino, assim como terminará seus dias desse jeito. Até que conhece Claire Stroughton, advogada de sua mãe e sua nova “refeição” e, embora nenhum dos dois pudesse imaginar, destinada a ser sua salvadora.
Tudo acontece a partir de uma visita que Claire faz a sua cliente que, por várias razões, estava impedida de ir de Caldwell, onde reside, até o seu escritório em Manhattan durante um feriado. Durante a visita, a Srta. Leeds sugere que Claire conheça seu Filho. Mas o que ela não imagina é que não se tratava de senhor de idade avançada convencional, já que a Srta. Leeds é uma anciã de aproximadamente 90 anos.
Outra das surpresas que se seguirão será a forma como vai ser apresentada ao tal Filho.
Depois de um chá, ao qual se viu forçada a aceitar por educação, Claire perde os sentidos e, vários minutos a seguir...

“Claire virou-se na cama, sentindo veludo sob as mãos e suave algodão egípcio contra o rosto. Virou a cabeça de um lado para o outro no suave travesseiro, dando-se conta do martelar nas têmporas e que sentia náuseas.
Que sonho tão estranho… a senhorita Leeds e esse mordomo. O chá. O carrinho. O elevador.
Deus, doía-lhe a cabeça, mas de onde vinha esse maravilhoso aroma? Odores densos e sombrios… como uma agradável colônia masculina, uma colônia que ela nunca sentira antes. Enquanto, inspirava profundamente, seu corpo esquentou-se em resposta e percorreu a superfície de veludo com a palma da mão. Parecia pele…
Espere um momento. Não tinha nada de veludo em sua cama.
Abriu os olhos… e ficou olhando fixamente para uma vela. Que estava sobre uma mesinha de cabeceira que não era dela.
O pânico rugiu em seu peito, mas a letargia prevalecia sobre seu corpo. Lutou tentando levantar a cabeça, e quando finalmente conseguiu, tinha a visão imprecisa. Não que isso tivesse alguma importância, já que podia ver mais à frente do que o superficial atoleiro de luz que caía sobre a cama.
Uma vasta e espessa escuridão a rodeava.
Ouviu um misterioso som de algo sendo arrastado. Metal contra metal. Movendo-se ao seu redor. Aproximando-se dela.
Olhou em direção ao ruído, abrindo a boca, um grito formando-se em sua mente só para ficar preso no fundo de sua garganta.
Havia uma enorme silhueta negra ao pé da cama. Um enorme… homem.”
E foi dessa forma que Claire despertou para o que seria um verdadeiro pesadelo, ou talvez sonho.
Assim como ela eu também me apaixonei por Filho, ou Michael como ela mesma começou a chamá-lo, uma vez que tanto o que viu como o que conheceu dele lhe fazia pensar em algo tão etéreo como um anjo.
Presa naquele lugar esquecido do mundo, deveria ficar ali por três dias, até que ele tivesse se alimentado, depois seria solta e sua mente limpa. Mas, diferente de todas as outras mulheres que já estiveram ali, Claire é seduzida por algo que jamais poderia pensar que existisse.

“[...]
— Quero ver seu rosto. Agora.
Houve um longo silencio. Logo ouviu as correntes e ele saiu para a luz.
Claire ofegou, levando as mãos a boca. Era tão bonito como sua voz, tão bonito como seu aroma, tão bonito como um anjo… e não parecia ter mais de trinta anos.
Sua estatura de 1,98 de altura estava envolta em um roupão de seda vermelha que caía até o chão e estava amarrado com um cinto bordado. Seu cabelo era negro como a noite e o mantinha afastado do rosto, caindo em grandes ondas até… Deus, provavelmente até a cintura. E seu rosto… sua perfeição era assombrosa, com a mandíbula quadrada, os lábios grossos, e o nariz reto. Era a síntese da magnificência masculina.
Entretanto não podia ver seus olhos. Mantinha-os baixos, olhando o chão.
— Meu Deus — sussurrou —. É irreal.
Voltou para a sombra.
— Por favor, coma. Precisarei de você novamente. Logo.
Claire imaginou-o mordendo-a… chupando seu pescoço… bebendo o que levava nas veias. E teve que lembrar a si mesma que era uma violação. E que era uma prisioneira contra sua vontade e que estava sendo usada por… um monstro.
Baixou os olhos. Parte das correntes que se deslocavam com ele ainda estava à vista. Era grossa como seus punhos e supôs que estaria fechada no seu tornozelo.
  Definitivamente, ele também era um prisioneiro.
[...]”

Gente, daí em diante é só encantamento, pois vamos descobrindo, assim como Claire, as peculiaridades desse macho; desde sua crença no fato de que é merecedor desse castigo até a perda de sua virgindade.
E, meu povo, eu amo J.R. Ward! Não que minha imaginação já não seja fértil o suficiente, mas a descrição, os detalhes que acrescenta, uau! Conseguem enrubescer a mais sem-vergonhas das periguetes.
Michael nos encanta com suas descobertas, com sua história de vida e nos faz querer ficar trancafiadas com ele e sumir com as chaves.
Por outro lado, mostra-se extremamente correto, honesto e heróico também, não aceitando que Claire o resgate desse seu destino, ainda que totalmente envolvido por ela.
“[...] 
Dimitris Kouloulias
Olhou-o fixamente. Embora fosse enorme, era tão tranquilo, reservado e humilde que não teve medo dele. É obvio que a parte lógica de seu cérebro lhe recordava que deveria estar apavorada. Mas logo pensava na forma como a tinha dominado, sem machucá-la na primeira vez que despertou. E no fato de que ele parecia ter medo dela.
Conservando o olhar nas correntes, disse a si mesma que deveria dar razão aos tumultuados pensamentos em seu cérebro. Essa coisa estava ali por alguma razão.
— Qual é seu nome? — perguntou-lhe.
Suas sobrancelhas baixaram.
Deus, a luz que se derramava sobre seu rosto o fazia parecer algo definitivamente etéreo. E ainda assim, a estrutura de seus ossos era bem máscula, firme e inflexível.
— Me responda.
 — Não tenho um — disse.
— O que quer dizer com não tem um nome? Como é chamado?
— Fletcher não me chama de nenhuma forma. Minha mãe está acostumada a me chamar de filho. Assim, suponho que esse é meu nome. Filho.
— Filho.
Esfregou as coxas com a palma das mãos, de cima para baixo, e a seda vermelha de seu roupão flutuou com elas.
— Há quanto tempo está aqui embaixo?
— Em que ano estamos?
Quando respondeu-lhe, ele falou:
— Cinquenta e seis anos.
Ela perdeu respiração.
— Tem cinqüenta e seis anos?
— Não. Trouxeram-me para cá quando tinha doze anos.
— Meu Deus… — evidentemente tinham diferentes expectativas de vida — Por que o puseram nesta cela?
— Minha natureza começou a impor-se. Minha mãe disse que desta forma seria mais seguro para todo mundo.
— Esteve aqui embaixo todo este tempo? — Devia estar tornando-se louco, pensou. Não podia imaginar estar sozinha durante décadas. Não era de estranhar que não queria olhá-la nos olhos. Não estava acostumado a interagir com ninguém — Aqui embaixo, sozinho?
— Tenho meus livros. E minhas ilustrações. Não estou sozinho. Além disso, aqui estou a salvo do sol.
A voz de Claire se endureceu quando recordou a agradável, pequena e idosa senhorita Leeds drogando-a e atirando-a ali embaixo, na cela com ele.
— De quanto em quanto tempo te trazem mulheres?
— Uma vez ao ano.
— O que? Como uma espécie de presente de aniversário?
— É o tempo máximo que posso ficar antes que minha fome se torne muito intensa. Se esperar mais, morro… difícil de acreditar. — Sua voz era impossivelmente baixa. Estava envergonhado. [...]”

Quando mais nova tive um namorado com quem fiquei por algum tempo, até descobrir que era virgem, o que eu já desconfiava, mas não fazia ideia da minha reação ao confirmar o fato. Não sei se era por imaturidade minha, ou por não estar tão na dele assim, mas acontece que dias depois terminei o namoro.
Hoje, com a experiência de vida que tenho, tenho certeza de que se um Michael aparecesse em minha vida, com tanta coisa linda como esse de Ward, juro, me encarregaria de sua pureza com a maior das paciências, e olhem: se há algo que não tenho é paciência.
Definitivamente, Michael me encantou em tudo. Vocês precisam conhecer esta história de herói e heroina, de descoberta do outro e de auto-conhecimento; certamente também vão querer dar colo a Filho, Michael.
Claire entra para o rol das poucas personagens femininas que me cativaram e Michael (Filho) tornou-se meu amante literário mais doce.
Vou ficando por aqui, já me programando para o próximo delírio literário.!

Beijos e Carpe Diem!

Tania Lima

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